Dr. Manuel Luciano da Silva O médico-historiador das descobertas fantásticas


defende que os portugueses foram os primeiros a criar uma colónia na Nova Inglaterra defende que Cristõvão Colombo era português

Prefácio

Governo Português condecorou-o com a Ordem do Infante D. Henrique em 1968

O Dr. Luciano da Silva é uma das figuras portuguesas mais conhecidas da comunidade nos Estados Unidos e não só. Médico e historiador, foi durante cerca de 40 anos o elo de ligação entre a comunidade portuguesa de Rhode Island e Massachusetts e o sistema médico americano. Milhares de compatriotas a ele recorreram ao longo destas quatro décadas em busca de um esclarecimento, diagnóstico e tratamento na sua língua natal — o português. Foi também o pioneiro da informação médica em português na imprensa, realizando programas de rádio e televisão sobre temas médicos de interesse geral, em linguagem simples e acessível a todos, e publicando muitos artigos em jornais e revistas médicas; é autor do livro "A Electricidade do Amor" (1984).

A par da carreira médica, Luciano da Silva é também autor e historiador reconhecido. Estuda desde há mais de 50 anos a história da Pedra de Dighton, Rhode Island, e as suas misteriosas inscrições, que ele atribui ao navegador português Miguel Corte Real. Esses estudos levaram-no a defender a tese, no livro "Portuguese Pilgrims and Dighton Rock" (1971), de que a primeira colónia europeia na Nova Inglaterra foi fundada por portugueses. Em 1987 publicou "The True Antilhas, Newfoundland and Nova Scotia", onde fundamenta aquela tese com a sua original interpretação das inscrições; em 1987, com base na interpretação da sigla do navegador Cristóvão Colombo, publica "Columbus was 100% Portuguese", livro polémico onde defende a nacionalidade portuguesa para o descobridor da América. No campo da investigação histórica, publicou ainda "The Religious and Mythological Powers in the name of Cristóvão Colon" (1991), "The Pope Alexander VI and Cristofom Colon" (1992), "The First Queen of Bristol, Rhode Island, was 100% Portuguese" (1993), "I Made another discovery" (1994) onde descreve a sua descoberta do nome "Cristofõm Colon" na segunda bula papal de 4 de Maio de 1493.

Ao longo dos anos, Luciano da Silva tem realizado centenas de conferências nos mais variados recantos do mundo defendendo as suas teses e as suas descobertas históricas e médicas. E se neste caso as suas teorias são bem aceites por todos, já no campo histórico as suas descobertas e teses têm sido recebidas com algum pessimismo e gerando, mesmo, certa polémica, principalmente entre a maioria dos historiadores de Portugal. Isso não o tem desencorajado de afirmar por todo o mundo que não só Cristóvão Colombo era português, como foram os nossos compatriotas os primeiros europeus a estabelecerem uma colónia na América do Norte.

É natural que uma pessoa destas suscite a curiosidade de todos, quer pelo seu enorme patiotismo, quer pela persistência que põe na defesa dos ideais em que acredita. Foi para conhecer o homem, o médico, o emigrante, o investigador e o historiador que Mundo Português decidiu entrevistar o Dr. Luciano da Silva.

Manuel Luciano da Silva nasceu na aldeia do Cavião, Vale de Cambra (Aveiro) em 1926, no seio de uma família humilde. Mesmo assim completou o ensino secundário em Oliveira de Azeméis antes de emigrar para a América em 1946, para se juntar ao pai. Mal chegado a New York começou a trabalhar na Westinghouse Electrical International Company como "mail boy". O domínio perfeito da língua portuguesa levou-o depois a ocupar o cargo de secretário no Consulado de Portugal em New York enquanto estudava inglês à noite. Em 1948 matriculou-se na New York University onde acabaria por concluir o curso de Biologia 4 anos depois. Nesse ano, e em consequência da morte de seu pai, regressa a Portugal, ingressando na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, onde se licenciou com distinção no ano de 1957. Depois de um ano em Portugal, decide voltar aos Estados Unidos e inicia um estágio no St. Luke’s Hospital, em New Bedford, MA. Completaria depois a especialização em Medicina Interna na famosa Lahey Clinic, em Boston e trabalhou desde 1963 como médico associado no Medical County Medical Center; foi ainda membro activo do Roger Williams Medical Center Hospital, afiliado com a universidade Brown, e durante 21 anos director médico do Rhode Island Veteran’s Home em Bristol, encontrando-se presentemente reformado da actividade médica há cerca de um ano.

Nesta sua longa vida, o Dr. Luciano da Silva desenvolveu também paralelamente intensa actividade comunitária, nomeadamente na União Portuguesa Continental, nos Rotários, na Portuguese-American League, entre outras. Foi ainda o fundador e presidente de várias organizações culturais e médicas, como a "The Knights of Corte Real", a "Portuguese American Communicaions", a Prince Henry Society, a Bristol County Medical Society, a Portuguese American Health Profissional Association, etc. Espalhou ainda o seu talento e saber em programas de rádio e televisão e deu mais de 300 conferências por todo o mundo sobre temas médicos e históricos. Foi ainda galardoado com vários prémios e distinções na América e em Portugal, nomeadamente a Ordem do Infante D. Henrique, o Prémio Peter Francisco, Homem do Ano, doutoramentos honoris causa e muitas outras. É ainda membro de várias sociedades históricas e associações portuguesas e americanas.

Entrevista escrita pelo Editor António Oliveira:

Descobertas simples que escapam aos "especialistas"

Com esta simples técnica, a minha mulher e eu temos sido capazes de fazer descobertas simples, mas muito importantes, que escaparam sempre aos chamados "especialistas". Descobrimos o monograma de Salvador Fernandes Zarco que aparece em quinze documentos assinados pelo navegador Cristovão Colon (chamado erradamente Colombo). Conseguimos, indo à Biblioteca do Vaticano em Roma, verificar que as duas Bulas Papais de Alexandre VI, escritas totalmente em latim, apresentam o nome do navegador, em português, Cristovão Colon. Nenhum historiador no mundo inteiro se lembrou de ir verificar o nome original nas Bulas Papais! Eis a razão porque os chamados "historiadores" me querem fazer guerra. Não argumentem comigo, porque eu não lhes ligo importância nenhuma! Se quiserem argumentar, que argumentem com o Papa Alexandre VI. Que me deixem em paz! Não vou gastar as minhas hormonas com eles.

MP — Penso que uma das suas primeiras descobertas históricas se relaciona com a Pedra de Dighton, onde alegadamente estarão as inscrições do navegador português Corte Real que terá chegado ao continente americano muito antes de Colombo. Quer explicar como surgiu todo este processo e em que fundamentos se baseiam as suas teses?

LS — Não. Miguel Corte Real não chegou à América do Norte antes de Cristovão Colon (Colombo) ter chegado às ilhas da América Central, em 1492. Quem chegou à Terra Nova e Nova Escócia, em 1472 (portanto 22 anos antes de Colombo), foi o pai de Miguel, João Vaz Corte Real. Depois veio o filho mais novo, Gaspar Corte Real, em 1500 e noutra viagem em 1501. Mas desta viagem não mais voltou a Lisboa. Foi então que Miguel Corte Real, irmão mais velho, saiu de Lisboa a 10 de Maio de 1502, à procura de Gaspar, mas também não mais voltou a Portugal. As inscrições portuguesas gravadas na Pedra de Dighton são, podemos dizer, o "cartão de visita" de Miguel Corte Real, a confirmar a sua chegada e estadia na Nova Inglaterra.






Vice-Primeiro Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Dr. Jaime Gama e Dra. Anabela Soares Albergaria, Cônsul de Portugal em New Bedford, Massachuseets, quando visitaram o Museu da Pedra de Dighton, na Primavera de 1999

As críticas de Portugal...

MP — Os historiadores portugueses, e mundiais, reconhecem a veracidade dessa sua tese? Eu sei que tem sido alvo de duras críticas, que o acusam de defender ideias sem bases históricas. Como se sente a defender as suas ideias perante tantos críticos e cépticos?

LS — A teoria portuguesa — revelando ao mundo inteiro que foi Miguel Corte Real quem gravou, em 1511, as inscrições portuguesas na face da Pedra de dighton — foi apresentada pelo Professor Edmund Burke Delabarre, Professor e Chefe do Departamento de Psicologia da Universidade de Brown em Providence, Rhode Island, no dia 2 de Dezembro de 1918. Devemos notar que o Professor Delabarre não ensinava história. Era, portanto, um historiador amador! O Professor Delabarre descobriu a data de 1511, o Escudo Português em forma de "V" e o nome de Miguel Corte Real, gravado no centro da face da pedra. Já se passam mais de oitenta anos depois da descoberta da teoria portuguesa. Até à data ainda não apareceu nenhuma refutação válida contra a teoria portuguesa. Pelo contrário, só têm surgido mais descobertas a reforçarem a teoria portuguesa. Em 1951, o Professor José Dâmaso Fragoso, Professor de Português na Universidade de Nova Iorque, revelou a descoberta de três Cruzes da Ordem de Cristo e o Escudo Português em forma de "U". E em 1960, eu apresentei, no Primeiro Congresso Internacional da História dos Descobrimentos, que se realizou na Aula Magna da Universidade de Lisboa, em 1960, a descoberta feita por mim da quarta Cruz da Ordem de Cristo.

"Os chamados «professores» armam-se em cépticos porque não querem admitir a sua ignorância"

Os chamados "professores" armam-se em cépticos porque não querem admitir a sua ignorância em não saber ler nem interpretar as inscrições originais portuguesas gravadas na Pedra de Dighton. Mas a parte mais triste, mais ridícula e até mais estúpida é o facto de NENHUM historiador de Portugal NUNCA ter examinado a Pedra de Dighton no LOCAL. Quer dizer que estes professores se fossem médicos, seriam péssimos médicos, porque passavam a fazer o diagnóstico e a passar a receita, sem examinar o doente! Matavam os doentes!!! Isso não se faz, meus senhores! Muitos dos meus inimigos já morreram e não deixaram nenhum nome na História porque gastaram as suas energias negativamente! Que a suas almas descansem em paz!

MP — Mais tarde escreveu um livro onde defende a nacionalidade portuguesa de Colombo. Explique sucintamente em que se baseia para afirmar isso.

LS — Escrevi várias monografias, em inglês e português, a defender a tese de que Cristóvão Colon (erradamenente conhecido por Colombo), era 100 por cento Português e Judeu Português sefárdico. Isto é um assunto só por si para uma larga entrevista. Mas para responder directamente à sua pergunta basta me dizer que usei com a minha mulher os mesmos métodos científicos de examinar directamente os documentos, pondo de parte todas as teorias impressas e rebatidas de que o navegador nasceu em Genova, Itália. Começámos tudo DE NOVO! Assim passámos a rever a (1) Sigla do navegador, que nos revela claramente que o seu nome era Cristóvão Colon, (2) descobrimos o Monograma com as iniciais de Salvador Fernandes Zarco, nascido em Cuba, Portugal. (3) Fomos ao Vaticano descobrir as duas Bulas Papais de Alexandre VI , com o nome português de Cristóvão Colon, (4) verificamos que o navegador deixou nas últimas doze cartas que escreveu ao filho legítimo, Diogo Colon, uma mensagem em judaico "Barush Ashem"— "Deus te abençoe, meu filho" e (5) finalmente, constatamos que o Emblema de Armas do célebre navegador tinha as Quinas de Portugal. Mas tudo isto deve ser, como acima disse, matéria para uma futura entrevista ou artigo.

MP — Este seu livro foi também alvo de fortes ataques de historiadores portugueses, que não aceitam a tese. O que tem a dizer?

LS — Não. Até à data os historiadores, tanto americanos como portugueses, não me têm feito guerra por causa do Colombo Português. Eles têm dirigido os seus mísseis para o historiador Mascarenhas Barreto em Lisboa, Portugal. Comigo têm usado a "conspiração do silêncio!". Talvez seja por se aperceberem que eu não lhes ligo nenhuma importância! Sou totalmente independente, monetária, profissional e socialmente. Não preciso de ter o meu nome ligado a nenhuma universidade!

Nova descoberta

MP — Mais tarde fez ainda uma outra descoberta na carta náutica de 1424. De que se trata?

LS — Sim, foi no dia 7 de Novembro de 1986, dois minutos para a meia noite, que sozinho na minha biblioteca, fiz aquilo que considero a minha maior descoberta cartográfica. Descobri as linhas de latitude na Carta Náutica de 1424, provando assim que as Verdadeiras Antilhas são a Terra Nova e Nova Escócia e não as Antilhas na América Central. A Carta Náutica é um documento em pergaminho encontrado na colecção fabulosa de Sir Thomas Phillips de Londres, Inglaterra, e foi comprada, em 1952, pela James Bell Collection da Universidade de Minnesota por um milhão de dólares. Hoje o seu valor está calculado em 50 milhões! A razão de eu descobrir as linhas de latitude, foi porque eu sei a latitude da aldeia onde eu nasci no norte de Portugal — 40 graus Norte. Quando olhei para as quatro ilhas, desenhadas na Carta Náutica de 1424, na parte mais ocidental dos Açores, constatei que elas estavam a uma latitude de 40 graus Norte, portanto muito longe, cerca de duas mil milhas de distância, das ilhas na América Central, localizadas na latitude média de 15 graus Norte! Eureca! Este assunto também é matéria para outra entrevista ou artigo, usando diagramas, mapas, etc.

MP — No capítulo editorial, publicou também livros sobre temas médicos. Considera-se um investigador médico?

LS — Sim. Comecei por escrever a minha tese na Escola Médica de Coimbra intitulada: "Dois Casos do Sindroma de Curvaier-Baumgarten". Doença raríssima. Em mais de 40 anos de prática médica nunca mais tornei a encontrar tal doença! Depois quando era "Fellow" na famosa Lahey Clinic de Boston, participei nos primeiros ensaios do uso de pastilhas no tratamento da diabetes. Porque verifiquei que tanto o povo americano como o português não sabem os ABCs da sexualidade humana NORMAL, resolvi escrever, em inglês e português as edições da "A Electricidade do Amor!" Levei 22 anos, calmamente, a pesquisar a informação contida nestes dois livros, mas valeu a pena.

MP — A par desta actividade, deu e continua a dar inúmeras conferências sobre assuntos de medicina e históricos e a fazer programas de rádio e televisão. Em que área está mais à vontade?

LS — Eu sinto-me à vontade em qualquer das formas. Há muito tempo aprendi a falar em público e o estratagema é muito simples. Não importa se estou a falar para uma pessoa ou muitos milhares. A regra é sempre a mesma que adopto. Concentro-me como se estivesse a falar só para UMA pessoa. Nós quando estamos num café a falar com um amigo, não ficamos nervosos. Deve ser a mesma coisa na rádio ou na televisão. Outra coisa fundamental: é preciso uma pessoa estudar a matéria de véspera! E quando não se sabe, deve-se ter a franqueza de dizer que não sabe! Sinto-me muito à vontade a explicar aos doentes e ao público em geral, através dos meus programas de rádio e televisão e até por meio de artigos em inglês e português, os vários aspectos, por vezes complexos da medicina, para melhor compreensão e encorajamento da nossa gente lusa.

MP — E como se isto não bastasse, tem um largo currículo de participação em múltiplas actividades culturais comunitárias nos EU. Depois de tantos anos neste país, parece cada vez mais forte o seu amor a Portugal e à nossa cultura. Nunca pensou em regressar?

LS — Nunca me esqueci que sou emigrante. A minha primeira alfaia na América foi uma vassoura. Por isso simpatizo com as dificuldades que os nossos emigrantes têm de sofrer para triunfar nesta América. Tenho muito amor por Portugal e pelas coisas portuguesas. Nunca misturo o português com o inglês. É uma espécie de higiene mental. Em 53 anos já atravessei o Alântico setenta e cinco vezes nas minhas viagens a Portugal para ver a família, amigos e continuar as minhas investigações sobre os descobrimentos portugueses!

MP — Considera-se um emigrante português nos EU ou um luso-americano?

LS — Sou uma mistura dos dois. Camões que foi emigrante durante 16 anos na África e na Ásia quando regressou a Lisboa escreveu a seguinte definição da Pátria: "Esta é a ditosa Pátria minha amada!" Fernando Pessoa, outro emigrante, nove anos na África do Sul, definiu a nossa Pátria nesta frase: "A minha Pátria é a língua Portuguesa!" Eu que sou emigrante português, há mais de meio século, também tenho direito a definir a minha Pátria. "A minha Pátria chama-se Saudade!" Quando estou na América tenho saudades de Portugal onde a minha mãe está sepultada. Quando estou em Portugal tenho saudades da América onde o meu pai está sepultado. Tenho vivido na América à maneira portuguesa, usufruindo as vantagens da vida americana.

MP — Dê agora a sua opinião sobre os Estados Unidos e Portugal.

LS — Gosto de ambas as nações. Sou binacional. Tenho os dois passaportes. Tenho um duplo orgulho em ser luso-americano, porque sou descendente de uma nação, Portugal, que foi campeã há quinhentos anos nos descobrimentos da Terra, e sou também cidadão duma nação, os Estados Unidos, que continuam a ser os campeões na conquista do Espaço!

MP — Agora reformado, vai dedicar-se mais à história ou à escrita médica? Em que novos temas trabalha neste momento?

LS — Só estou reformado há dez meses. Mas continuo a fazer o meu programa semanal (de 30 minutos) ao vivo, na rádio "Perguntar ao Médico". Faço também o programa de televisão, semanalmente chamado "Tribuna Médica", no Canal Português. Comecei há três semanas a construir a minha página na Internet onde tenciono colocar todos os meus artigos e livros assim como muita correspondência original minha que faz parte da história luso-americana.

Além de tudo isto sou um avô muito feliz, com três netinhos, que são o encanto da nossa família. Se os quiserem conhecer basta ligar para a minha página na Internet http://www.apol.net/dightonrock/.


Fonte:http://www.dightonrock.com/medico_historiado_das_descoberta.htm